Análise a TETRIS (AppleTV+)
Se fossemos enumerar uma lista das coisas que impactaram a cultura pop dos últimos 50 anos, o Tetris, indubitavelmente, teria que lá estar. Mais de um simples mas viciante videojogo presente hoje em dia nas mais variadas plataformas ,este quebra-cabeças marcaria o imaginário de milhares de crianças e adultos dos anos 80.
Juntamente com o Pac-Man e o Super Mário, considero que o Tetris completa esta santíssima trindade de videojogos icónicos vindos da penúltima década do século XX. Agora passados quase 40 anos da criação de Alexey Pajitnov, a Apple TV brinda-nos com uma bio-pic que promete contar a história que fez com que este jogo vindo da já extinta União Soviética furasse barreiras sociopolíticas e torna-se num fenómeno à escala mundial.
“Peça a peça”
Realizado por Jon S. Baird, Tetris, a longa-metragem, segue Henk Rogers, designer e empreendedor da Bullet-Proof Software, numa jornada que relata a sua “luta” pelo licenciamento do conhecido jogo. Trata-se de uma corrida contra o tempo no qual tem de enfrentar a frieza soviética e a multinacional norte-americana MirrorSoft representado pelos gananciosos empresários Robert e Kevin Maxwell.
Rogers é interpretado por Taron Egerton, conhecido pelos seus papéis nos dois filmes Kingsman, Rocketman – uma bio-pic sobre Elton John – e na minissérie Black Bird da Apple TV. Em Tetris, Egerton faz também um excelente trabalho como protagonista e o seu carisma novamente é responsável por trazer empatia num enredo que mistura elementos de thrillers e filmes biográficos.

O restante elenco cumpre bem o seu propósito, apesar de considerar que Robert e Kevin Maxwell – encarnados pelos atores Roger Allam e Anthony Boyle – são representados de forma bastante caricatural. Notou-se claramente a intenção de posicioná-los como vilões no enredo, apesar de não ser assim um aspeto tão “preto no branco”.
Apesar da história ser baseada em factos verídicos, Tetris não escapa à liberdade criativa. Sem querer revelar os contornos ficcionais que a história envereda, digamos que há certas sequências de ação que eram dispensáveis.

O magnata Robert Maxell é interpretado por Roger Allam / DR
No entanto, um aspeto que o filme conseguiu captar, de forma brilhante, foi a sua estética. Os cenários, os planos de transição e, até o próprio guarda roupa, ilustram bem o lado industrial e menos aprimorado da década representada. A banda sonora instrumental de Lorne Balfe é, também, um elemento crucial, assim como os temas escolhidos para condimentar este filme. Serviram perfeitamente para evidenciar o que estava “para além da cortina de ferro”.
“Say hello to my little friend”
Mais que um enredo que envolve complicações burocráticas, Tetris não tem medo de mostrar um lado emocional. Apesar de isto significar, sucumbir a clichês presentes em filmes com dramas familiares. Mas mesmo com estes pontos que podiam ter sido deixado de parte, a longa-metragem consegue proporcionar bom entretenimento e enriquece o legado pelo videojogo lançado originalmente em 1984.
Conhecedores da História da indústria dos videojogos irão reconhecer algumas figuras de uma certa companhia nipónica e um conhecido aparelho portátil. Mesmo que não estejam a par desses pormenores, a performance de Taron Egerton não deixará ninguém indiferente nesta viagem que levará o espetador numa disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Para jogadores casuais, meros curiosos e amantes da cultura pop, posso assegurar que Tetris irá constar nos filmes que marcaram 2023.E estamos a falar de um ano em que temos o filme de animação Super Mário e a adaptação live-action de The Last of Us. É pena que esteja “preso” a uma plataforma de streaming pois acredito que merecia ser exibido e experienciado numa sala de cinema.
Mesmo que não conheçam nada deste jogo – caso seja o caso… pergunto-vos o que estiveram durante estes tempos? – e se estiverem com vontade de ver um thriller com uma trama algo leve, aliado um bom andamento do enredo com facilidade em acompanhar, Tetris será uma excelente aposta da vossa parte. E garanto-vos, mal que comecem a surgir os créditos finais, a vontade em pegar no vosso “velhinho” Game Boy (ou Game Brick. Lembram-se dessas maquinetas tão populares em Portugal nos anos 90?) e jogar uma partida deste icónico jogo.
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