80’s Bits XXXVIII
Filme: ‘Chucky, o Boneco Diabólico’ – Child’s Play (1988)
Abatido pelo detective Mike Norris (Chris Sarandon), o moribundo assassino em série Charles Lee Ray (Brad Dourif) usa magia negra para colocar a sua alma dentro de um boneco chamado “Chucky” – que a viúva Karen Barclay (Catherine Hicks) acaba mais tarde por comprar para o seu filho, Andy (Alex Vicente ). Quando Chucky assassina a ama de Andy, o rapaz percebe que o boneco está vivo e tenta avisar as pessoas, mas é internado num hotel psiquiátrico. Agora Karen tem de convencer o detective Norris das intenções do boneco assassino, antes que Andy se torne a próxima vítima de Chucky.
O argumentista Don Mancini concebeu o conceito da história de ‘Chucky, o Boneco Diabólico’ enquanto estudava cinema na Universidade da Califórnia ,em Los Angeles. Mancini alegou ter sido inspirado pelo consumismo, pela famosa linha de bonecos Cabbage Patch Kids, pela antologia de terror para televisão ‘Trilogy of Terror’ (1975) e pelo episódio ‘Living Doll’ da série ‘A Quinta Dimensão’ (1959-1964). Inicialmente recusado pela maioria dos estúdios, o argumento foi finalmente comprado por David Kirschner, que aceitou produzir o filme. Para a realização, a escolha recaiu em Tom Holland, após o seu elogiado trabalho atrás da câmara em ‘A Hora do Espanto’ (1985).
O filme foi lançado nos Estados Unidos em Novembro de 1988 e arrecadou mais de 44 milhões de dólares contra um orçamento de apenas nove milhões. Com o filme a alcançar uma legião de fãs, o seu sucesso de bilheteira gerou uma franquia que incluiu quatro sequelas, um remake (de 2019), uma série (desde 2021 transmitida no canal internacional Syfy), banda desenhada e todo o tipo de merchandising. ‘Chucky, o Boneco Diabólico’ foi distribuído originalmente pela Metro-Goldwyn-Mayer mas posteriormente os seus direitos foram vendidos à Universal Pictures em 1990, um pouco antes do lançamento da primeira sequela ‘Chucky, o Boneco Diabólico 2’.
Não me recordo exactamente quando vi o filme original pela primeira vez e do início ao fim mas a personagem Chucky já estava bem presente para mim no final dos anos 80. Não tinha medo do boneco (ao contrário de uma espécie de fantoche do Becas que o meu primo tinha e que me aterrorizava cada vez que o via) mas sabia que era relativo a um filme de terror. Entretanto começaram a sair sequelas mas resisti a vê-las porque queria começar pelo original. Quando finalmente o vi, as minhas expectativas já não estavam muito altas porque a partir de ‘A Noiva de Chucky’ (1998), o quarto filme, a saga tomou um rumo notadamente humorístico e até de paródia auto-referencial, um pouco ao estilo da sua congénere ‘Scream’. Acabei por gostar de ‘Chucky, o Boneco Diabólico’, especialmente por limitar o tempo de ecrã da personagem principal, apostando mais no suspense.
Série: ‘O Polvo’ – La Piovra (1984-2001)
O comissário Corrado Cattani (Michele Placido) é destacado para a Sicília para assumir a investigação do assassinato do antigo chefe da brigada policial. Em breve descobrirá toda uma rede clientelista e criminosa em que estão envolvidos empresários, políticos, advogados e polícias, e isso torna-se mais evidente após sofrer o rapto e posterior morte da sua filha Paola (Cariddi Nardulli) devido à investigação que empreende. Um preço elevado com que terá que lidar também a sua esposa Elsa (Nicole Jamet), bem como os seus colaboradores e companheiros de comando: o magistrado Achille Bordonaro (Renato Cecchetto) ou os auxiliares Leo De Maria (Massimo Bonetti) e Altero (Renato Mori).
‘O Polvo’ é uma série televisiva italiana que pode ser classificada dentro do melodrama social, realizada pelo grupo Rizzoli para a RAI nos anos 80 e exportada para mais de 80 países. Tem um total de dez temporadas que vão de 1984 a 2001, e nas quais é mostrado o poder e os métodos da mais poderosa e temida organização criminosa de Itália, a Máfia. Uma rede cimentada de famílias através de um rigoroso sistema de ameaças, chantagens e vinganças, onde os interesses que defendem estão em consonância com as mudanças económicas e sociais vividas em Itália, estendendo a sua influência às mais altas esferas do poder, a fim de gerar todo um sistema de corrupção que o torna mais poderoso, implacável e invencível face a um Estado cada vez mais fraco.
Particularmente importante para a série é a evolução narrativa em que os múltiplos tentáculos do crime organizado se espalham pelas redes locais e internacionais. A primeira temporada centra-se nas redes localizadas de tráfico de droga na Sicília, enquanto que na segunda a atenção foca-se nos palácios do poder em Roma. A terceira parte conta a história das negociações financeiras da Máfia através de bancos internacionais e do tráfico ilegal de armas e resíduos nucleares. O enredo intensifica-se na quarta temporada, no final da qual o protagonista principal é assassinado devido ao crescente conhecimento que adquire sobre as vastas negociações e operações criminosas da Máfia. O público continuou a pedir mais, por isso os cineastas decidiram rodar mais temporadas. Sem Cattani, porém, a série foi uma desilusão comercial. Apesar disso, foram filmadas mais seis temporadas.
Emitida em horário nobre na RTP1 durante os anos 80, a série italiana ‘O Polvo’ foi uma grande sucesso em Portugal, especialmente até ao final da quarta temporada. Lembro-me perfeitamente da surpresa que a morte do comissário Corrado Cattani provocou lá em casa, especialmente aos meus pais, que viam a série regularmente. Quanto a mim, era demasiado novo para acompanhá-la na altura, uma vez que esta apresentava um retrato extremamente realista da violência e da crueldade dos membros da Máfia. Acompanhei já em adulto quando foi transmitida pela RTP Memória e gostei, ainda mais depois de descobrir que Ennio Morricone escreveu a maioria da música da série.
Música: ‘Beds Are Burning’ – Midnight Oil (1987)
Os Midnight Oil são uma banda australiana de rock conhecida pela sua forte componente ativista, marcada pela protecção do meio ambiente e defesa dos direitos do povo aborígene. Fundada em 1972 sob o nome Farm, a banda de Sydney começou por se apresentar como um trio composto por Jim Moginie (guitarra e teclados), Andrew James (baixo) e Rob Hirst (bateria). Três anos mais tarde, o estudante de direito Peter Garrett respondeu a um anúncio e juntou-se ao grupo como vocalista. Com a adição do guitarrista Martin Rotsey, a banda alterou o seu nome para Midnight Oil (denominação influenciada por um poema de Francis Quarles e por uma canção de Jimi Hendrix) e gravou o seu homónimo álbum de estreia em 1978.
A banda australiana partiria então para uma sequência de praticamente um novo álbum a cada ano, aumentando a sua popularidade desde a região da Australásia para um pouco por todo o mundo. Em 1987, os Midnight Oil atingem o auge do seu sucesso com o lançamento do álbum ‘Diesel and Dust’. O sexto álbum de originais da banda, inspirado na digressão ‘Blackfella/Whitefella’ do ano anterior, é considerado até aos dias de hoje um dos maiores álbuns já lançados em toda a Austrália. Poderoso, dinâmico e revelador, músicas como ‘Beds are Burning’, ‘Put Down that Weapon’, ‘Dreamworld’ e ‘The Dead Heart’ foram instantaneamente convincentes para que fossem considerados a maior banda de rock surgida na Oceania nos anos 80.
Ainda que os Midnight Oil tenham lançado vários singles antes e depois de ‘Beds Are Burning’, esta continua a ser, definitivamente, a música mais famosa do conjunto australiano e a razão porque por vezes são considerados one hit wonders fora do seu país. Escrita por Garrett, Moginie e Hirst, a canção critica a apropriação de terras da população aborígene e foi alvo de um versão em 2009 por ocasião da conferência das Nações Unidas sobre o aquecimento global, com vários cantores e celebridades a juntarem as vozes na canção. Em 2002, os Midnight Oil entraram em hiato depois do vocalista Peter Garrett enveredar pela carreira política, tendo este chegado ao cargo de ministro do ambiente e da educação em dois mandatos distintos. Em 2016, Garrett voltou à banda.
Não consigo precisar se a música dos Midnight Oil entrou lá em casa primeiramente pela rádio ou pela cassete gravada de ‘Diesel and Dust’ que o meu irmão mais velho trouxe. ‘Beds Are Burning, a primeira faixa do álbum, já se ouvia pela aparelhagem ou pela televisão e é umas minhas canções de rock preferidas da década de 80. O videoclipe também ficou na memória pela forma peculiar de dançar do gigante calvo Garrett. Anos mais tarde, quando iniciei a minha colecção de CD, acabei por comprar o álbum ao vivo ‘Scream in Blue’ (1992), que se encontrava num expositor de baixa de preço. É uma colectânea de músicas de vários concertos e permitiu conhecer mais da discografia dos Oils, alcunha pela qual são conhecidos pelos fãs.
Videojogo: ‘Navy Moves’ (1988)
‘Navy Moves’ é um jogo de computador e segunda parte da trilogia ‘Moves’ criada por Víctor Ruiz, da espanhola Dinamic Software, para o Commodore Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, Commodore 64, MSX e ZX Spectrum em 1988. Sucedendo ao original ‘Army Moves’ (1986) e antecedendo o terceiro capítulo ‘Arctic Moves’ (1995), foi o jogo com mais vendas na história da empresa, além de ter conseguido distribuição no mercado internacional e arrecadado vários prémios.
Também chamado em Espanha de ‘Operación Cefalópodo,’ o jogo contém dois níveis: no primeiro nível o jogador começa em uma lancha e deve saltar minas, depois submerge mergulhando entre tubarões e outros homens-rã inimigos. Finalmente, o jogador termina este primeiro nível pilotando um batiscafo entre polvos gigantes, com o inimigo final a parecer uma espécie de moreia colossal.
No segundo nível, o jogador infiltra-se no interior de um submarino nuclear e deve eliminar vários oficiais para obter códigos para realizar acções que completem a missão. Em suma, o herói deverá conseguir parar as máquinas que operam o submarino, emergir, activar a bomba e enviar uma mensagem para que seja resgatado assim que a missão estiver concluída.
Comprei ‘Navy Moves’ para o ZX Spectrum sob o engodo da capa, que continha uma figura militar com a “cara chapada” de Arnold Schwarzenegger, na altura a mais popular estrela de filmes de acção do mundo. A desilusão chegou logo com o lado A da cassete, que carregava o nível em que começamos a bordo de uma lancha. Por ser extremamente difícil, tornou-se aborrecido rapidamente e decidi experimentar o lado B. Este sim, valeu a pena, com uma jogabilidade bem mais interessante, misturando acção e espionagem.
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